domingo, 29 de setembro de 2013

Pátria é a casa da gente...

patria é a casa da genteO título do post de hoje eu retirei de uma obra muito importante da literatura brasileira: O Tempo e o Vento, deErico VeríssimoNão, eu nunca li esses livros na íntegra(finalmente, em 2015, eu consegui concluir a leitura dos seis volumes de O Tempo e o Vento. Caso você queira conhecer minhas impressões de leitura, é só clicar aqui) mas assisti à minissérie baseada na obra, exibida há muitos anos na TV aberta do Brasil. Na época da minissérie, quando ouvi a frase pela primeira vez, eu ainda era muito menina e não entendia muito bem o que o autor estava querendo dizer. Mas suas palavras foram tão marcantes que vezes sem conta voltavam à minha memória. Quando eu lia essa frase pensava assim: Pátria é a casa da gente… E se a gente morar na China, por exemplo? Hoje, eu realmente moro na China, e posso dizer que as palavras de Érico Veríssimo começaram finalmente a fazer sentido pra mim. Provavelmente o significado que eu atribuí a elas nada tem a ver com o que o autor quis dizer realmente, mas eu sou daquelas que pensa que uma vez que o escritor escreveu e publicou sua obra, o que ele quis dizer acaba se perdendo um pouquinho, e o leitor tem todo o direito de interpretar como melhor lhe convém. E eu fiz exatamente isso, interpretei do meu jeito.
Essa introdução toda é apenas pra dizer que por muitos anos eu vivia fora do Brasil como se ainda vivesse dentro. Morava no país dos outros mas achava que eu não devia me apegar a nada nem a ninguém. Reclamava de tudo e de todos, comparava tudo e todos, nunca estava satisfeita com nada… achava que eu estava ali apenas passando uma chuva e que, mais dia menos dia, voltaria para minha pátria.Hoje, quase 18 24 anos após ter saído do meu país de origem, posso dizer que muitas coisas passaram, muitas águas rolaram e eu aprendi, não sem quebrar a cara algumas vezes, a valorizar o que tenho de melhor no país onde vivo. Não estou livre de ficar nostálgica e fazer vez ou outra pequenas comparações, mas aprendi, sobretudo, a olhar muito mais para as coisas bonitas que para as feias. Obviamente que sinto muita saudade e necessidade de ter mais contato com a minha minha gente e com a minha cultura. Por isso, sempre que vou ao Brasil desfruto muitíssimo e volto renovada. Porém, sei que é aqui – atualmente do outro lado do planeta – que estou bem… É aqui, onde vivo, onde crio os meus filhos (os filhos já estão praticamente criados e atualmente já moram sozinhos), onde durmo e acordo, que é o lugar onde me sinto em casa. Durante todos esses anos vi e ouvi muita gente se queixando do clima, da comida, das pessoas e de tudo que encontram pela frente. Moram fora do seu país de origem, mas querem continuar a viver como se ainda estivessem dentro. Relutam em se adaptar, querem ter contato apenas com brasileiros, ouvir apenas música brasileira, comer apenas comida brasileira, falar apenas português… Ou seja, querem viver como se estivessem em um gueto. Eu até entendo, porque no início também fui um pouco assim (quem não?), mas quando me dei conta de que isso dificultava a minha adaptação no novo país, fui modificando minhas atitudes pouco a pouco.
Felizmente, depois de muitas andanças por esse mundão de meu Deus, pude entender que sou eu quem vive no país alheio, portanto sou eu quem deve procurar se adaptar aos novos costumes e modo de vida. Não são eles, os nativos, que devem mudar seus hábitos para melhor se enquadrar comigo.
É claro que não devemos esquecer nossos costumes e nossas origens. Devemos sim valorizar nossa cultura, mas temos que saber também que para crescer no país onde vivemos é necessário abrir a cabeça para o novo. Eu sei que às vezes é difícil, muito difícil mesmo, sobretudo quando moramos em um país muito diferente do nosso, mas não é impossível, acreditem! Eu creio que aceitar e respeitar as coisas que são distintas daquelas que estamos acostumados é o primeiro passo para uma melhor adaptação. 
Eu tento me esforçar bastante para entender a cultura dos lugares nos quais vivo, porque sei que por mais ruim que seja sempre vai a haver a parte boa, a parte bonita, nós só precisamos mesmo é aprender a distingui-la e a valorizá-la quando a encontrarmos. Uma vez feito isso, viver no exterior torna-se mais fácil. 

Além disso, o mais importante pra mim é mesmo a minha casa, que eu considero o melhor lugar do mundo. Acho que por isso gosto tanto dessa frase de Érico Veríssimo, porque na minha cabeça remete à família. É na minha casa que consigo relaxar, usufruir do carinho dos meus e me desmoronar quando é preciso… É nela que, quando triste, encontro um lugar quentinho e aconchegante pra sentar e espantar a tristeza. É nela que quero ficar quando bate aquela vontade incontrolável de estar em um cantinho só meu. A minha casa é onde me sinto segura, pra onde sempre quero voltar independente do continente onde esteja localizada.

A vontade de escrever este texto surgiu depois de conversar com uma pessoa que mesmo morando há muitos anos em Hong Kong não consegue se adaptar nem com reza brava. Ela não gosta de absolutamente nada e taxativamente diz que não precisa gostar, que não quer gostar mesmo e pronto. Então, a tendência é reclamar de tudo e só apontar e evidenciar as coisas ruins. Não dá nenhuma chance pra cidade, não tenta colocar um olhar livre de julgamentos e críticas diante das coisas que há por aqui. Se toma um café é ruim, se come um bolo não presta, se pede um prato de comida é fedido, o apartamento no qual mora é o pior que já teve na vida, se a pessoa com a qual fala não consegue responder em inglês chama de burra (esquecendo que Hong Kong também é China e que por estas bandas o cantonês é idioma oficial). 
Por mais que se diga: não é tão ruim assim… Arruma tu casa, deixa do jeitinho que você gosta, mesmo que na rua aconteçam coisas que não são do seu agrado quando você voltar e encontrá-la com a sua cara até esquece o lugar onde está morando. Mas não adianta! 
Eu nunca a ouvi elogiar alguma coisa ou dizer q gostou de algo. Caramba, isso é triste e desalentador. Eu sei, há costumes e manias que nós não somos obrigados a gostar e tomar como hábito para nós. Há milhares de coisas aqui que não me agradam, há inclusive aquelas que não podemos e nem precisamos aprender – eu pelo menos não preciso e nem quero -, mas não custa nada pelo menos tentar entender e respeitar essa diferença cultural. Eu tenho certeza que com um pouquinho de esforço e boa vontade é possível perceber mais coisas boas que ruins, mas pra isso há a necessidade urgente de QUERER enxergar a vida em Hong Kong com um olhar livre de preconceito.

9 comentários:

  1. Sabe de uma coisa Day? Eu cansei dessa gente! (rs...). Gente que não faz nada para se adaptar e ai saem reclamando do frio, dos suíços, da lingua alemã (que é obvio que essas pessoas não querem aprender), da comida, e por ai vai... Poxa, será que é tão difícil enxergar que existe um lado bom da vida???? Outra coisa que já percebi, é que tem gente que parece que se ressente quando percebem que vc está adapta e elas não.
    Sabe aquelas pessoas que vem morar fora imaginando que tudo sera flores e se chocam com a realidade? Eu optei por escrever no meu blog o que me faz bem, o que eu gosto, o que eu vejo de bom por ai. Minha vida é um mar de rosas? Claro que nãò!! Mas eu é que não vou ficar choramingando... ai essas pessoas chegam em algum blog onde veem pessoas felizes com a escolha de vida que fizeram e saem atacando - como anômimas é claro - . Eu tb acredito que com um pouco de esforço a vida fica mais leve... O mundo muda quando a gente muda! Bjs e boa semana por ai!!

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    1. É verdade, Sandra, muito gente fica irritada e acha que fazemos tipo quando dizemos que estamos adaptadas. Alguns não entendem que é preciso um mínimo de esforço e boa vontade pra viver em lugar diferente daquele a que estamos acostumados.
      Eu também decidi só escrever aqui sobre coisas que gosto e que me fazem bem, mas vc não faz ideia quantos comentários maldosos e agressivos já recebi por isso. No início fiquei assustada e até pensei em excluir o blog, mas agora tiro de letra, não tou nem aí!
      Beijos, querida!
      :)

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  2. Muito verdadeiro o seu post. Sempre digo que imigrar não é para qualquer pessoa, eu ainda não vivi fora mas o pouco que passo, adoro me sentir local, viver um pouco do lugar, aquela coisa de "em Roma como os Romanos". E de fato, Pátria é a casa da gente, adorei a frase também,rsrs

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    1. Oi, Wilma!
      É isso mesmo: "em Roma como os Romanos."
      Eu acho importantíssimo entrar em contato com a cultura local, pois é assim que a gente aprende e é assim que a adaptação acontece. Eu costumo usar muito aquele velho ditado: "a gente dança conforme a música!"... Se agora estou vivendo aqui, nada mais natural que me esforçar pra fazer com que esse AGORA seja um tempo agradável e feliz, né?!
      Um grande abraço ;)

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  3. Algumas pessoas me olham atravessadas quando digo que onde me sinto realmente em casa é na minha casa, aqui na França, país onde resido há quase 5 anos.
    Sempre gostei do Brasil e fui muito feliz lá, mas quando voltei pela primeira vez "para visitar" já não me senti mais "em casa", senti-me uma estrangeira, olhando tudo com olhos de estrangeiro. Mesmo se na casa dos meus pais meu quarto tenha fica intacto, minhas roupas e sapatos nos armários. Um ano depois eu já não me identificava mais com tudo aquilo.
    Gosto de viajar, mas adoro voltar para casa!

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    1. Milena,
      Uma vez escutei de uma amiga assim: vc tem que comprar uma casa é aqui, no seu país, e não lá fora, no país dos outros... Apesar de toda minha paciência em explicar que eu prefiro comprar um cantinho no lugar onde moro, ela não entendeu e me chamou de metida a besta! Mas, fazer o quê? Cada um com o seu cada um!
      Beijo

      PS:. Eu também sou assim, adoro viajar, mas a melhor parte é quando volto pra casa... rsr

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  4. Eu nunca morei fora do país, mas já fui algumas vezes a Espanha e Portugal. Apesar de falarem o mesmo idioma, mesmo em Portugal, o choque cultural é grande e acho que a boa vontade de aprender, aceitar as diferenças e tornar isso algo positivo e divertido é fundamental. Concordo com vc, e se uma dia eu for morar no exterior, quero ir com esse tipo de pensamento. Beijos

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    1. Pois é, Lora, acho que o segredo é esse mesmo: ter boa vontade e aceitar as diferenças... Agindo assim, com o tempo a gente acaba dando uma rasteira nas dificuldades... Acho que é tudo uma questão de QUERER enxergar o lado bom das coisas!.
      Um beijão ;)

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  5. Day querida, sempre me pergunto como alguém pode viver assim como essa tua conhecida. gente, deve ser mt duro! imagina que tristeza viver desse jeito? o que eu sempre me pergunto é: se tá tao infeliz, porque nao volta pra tua terra, maninha?menina que coisa maluca... me irrita mt pensar (nao sei se é o caso da moca mas ja vi mt gente agindo assim) que a criatura fica pelo status que morar fora lhe dá. Credo! E aquelas que vivem falando mal, meu Deus, fala mal de tudo e fica comparando com o seu país de origem, o tempo inteiro, ohh povo chato!

    Penso mt como vc, Day, somos nós que temos que nos adaptar ao novo país. Pode ser sim, um pouco difícil, mas basta um pouco de boa vontade e sair mesmo, do "gueto". Eu tenho minhas amigas brasileiras, é mt bom falar nosso idioma, mas tenho tbm minhas amigas alemaes,e outras estrangeiras, acho fundamental nao ficar isolado.

    Beijao querida

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