sábado, 4 de fevereiro de 2012



Quem está ao sol e fecha os olhos,
Começa a não saber o que é o sol
E a pensar muitas cousas cheias de calor.
Mas abre os olhos e vê o sol,
E já não pode pensar em nada,
Porque a luz do sol vale mais que os pensamentos
De todos os filósofos e de todos os poetas.
A luz do sol não sabe o que faz
E por isso não erra e é comum e boa.
                (Alberto Caeiro)

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Fernando Pessoa




Whether we write or speak or do but look 

We are ever unapparent. What we are 

Cannot be transfused into word or book, 

Our soul from us is infinitely far. 
However much we give our thoughts the will 
To be our soul and gesture it abroad, 
Our hearts are incommunicable still. 
In what we show ourselves we are ignored. 
The abyss from soul to soul cannot be bridged 
By any skill of thought or trick of seeming. 
Unto our very selves we are abridged 
When we would utter to our thought our being. 
We are our dreams of ourselves souls by gleams, 
And each to each other dreams of others' dream

Grande Sertão: Veredas.

“O senhor… Mire veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou. Isso que me alegra, montão”.
grande sertaoSempre tive uma vontade muito grande de ler Grande Sertão.Tantas vezes escutei que era uma obra sem igual, que valia muito a pena. Ouvi tantos elogios que em duas ocasiões comecei a leitura, mas lamentavelmente foram tentativas fracassadas, pois eu sempre parei no meio do caminho ou, para ser mais sincera, muito antes do meio do caminho. A leitura nao fluía como eu esperava, eu perdia a motivação e, quando percebia, já tinha deixado o livro de lado e estava lendo outras coisas.
Finalmente, em agosto de 2011, decidi insistir no livro e fiz disso uma meta. Dessa vez fui muito além das primeiras páginas, fui conquistada pelo encanto da narrativa de Rosa e consegui concluí-la com lágrimas nos olhos.
Acho que escrever aqui que amei a história seria muito pouco, pois Grande Sertão é um livro esplêndido e encantador… nao digo isso apenas porque se trata de um clássico da literatura brasileira, mas pela emoção que senti durante toda a leitura.
Confesso que no início tive uma certa dificuldade em entender a linguagem tão peculiar de Guimarães, pois seu texto recheado de neologismos e invencionices tornou a leitura muito lenta. No entanto, essa dificuldade foi desaparecendo no decorrer da narrativa. À medida que fui entrando em contato com as muitas reflexões de Riobaldo, o protagonista, essa mesma linguagem passou a soar quase familiar.

“O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.”

O jeito de ser do sertanejo e sua singular sabedoria, as paisagens do sertão tão sabiamente descritas e a forma como o autor aborda dilemas existenciais fizeram com que eu me aprofundasse ainda mais na história e compreendesse melhor o drama interior de Riobaldo. Suas reflexões, suas dúvidas e medos, de alguma forma, enriquecem a perspectiva do leitor. Cada causo por ele contado nos leva a refletir também. Então, sonhamos com ele, lutamos com ele, amamos com ele.
Guimarães ainda nos brinda com uma sublime história de amor. Triste e impossível é bem verdade, mas nem por isso menos bela. Quem nao seria capaz de ficar tocado em uma passagem como esta?

“(…) meu amor inchou, de empapar todas as folhagens, e eu ambicionando de pegar em Diadorim, carregar Diadorim nos meus braços, as muitas demais vezes, sempre”.

Enquanto lia Grande Sertão, nao cansava de pensar a respeito daqueles leitores que nao conseguem ler a obra no original. Sempre tive muita curiosidade em saber mais sobre as traduções dessa obra para outras línguas. Como será que traduziram os neologismos, a fala do sertanejo, as invencionices de Rosa? Será que foi possível captar a essência das personagens? Será que a linguagem criada por Rosa nao perdeu seu encanto quando transportada para outro idioma? Será que o leitor consegue se sentir cativado da mesma forma que nós, falantes da língua portuguesa, nos sentimos? Depois de todos esses questionamentos, cheguei a uma única conclusão: Sou mesmo uma grande privilegiada por poder ler Grande Sertão no original.
Grande Sertão é, finalmente, um poço de sensibilidade e lirismo… Ah, Riobaldo, Diadorim, Joca Ramiro, Zé Bebelo, Hermógenes, Medeiro Vaz… Já estou mesmo a “saudadear”.
Sobre o autor:
guimaraes

Joao Guimarães Rosa nasceu em Cordisburgo, Minas Gerais, a 27 de junho de 1908. Formou-se em Medicina em 1930, clinicou em Itaguara e mais tarde serviu como médico voluntário durante e Revolução de 32. Era poliglota. Seguiu a carreira diplomática e foi nomeado cônsul em Hamburgo, na Alemanha. Exerceu outras atividades diplomáticas na Colômbia e França. É autor de vários livros, entre eles, Sagarana, Corpo de Baile, Primeiras Estórias e Tutaméia – Terceiras Estórias.

Um vídeo excelente sobre Grande Sertão (contém spoilers)

sertao
O diabo na rua, no meio do redemoinho

Nonada. O diabo não há! É o que eu digo, se for… Existe é homem humano. Travessia.
                                                                                     ***
** A foto acima foi retirada da net. Não sei quem é o autor, mas sei que fez parte de uma exposição exibida no Grupo de Gravura Cidade de Florianópolis.

Alucino com as frases de Riobaldo!




"O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem."