sábado, 25 de maio de 2013

Coisas da China...

Todas as vezes que vou ao salão de beleza vem uma funcionária perturbar minha alma me oferecendo tratamentos estéticos. Eu SEMPRE recuso, porque já percebi que ela só quer mesmo garantir alguns trocados. Pra quem não sabe, os chineses de Hong Kong são completamente tarados por dinheiro, o que eles puderem fazer para arrancar alguns dólares a mais do seu bolso, pode ter certeza que farão.
A história que vou contar hoje, apesar de irritante, não deixa de ser também engraçada: estava no salão de beleza para fazer as unhas e, conversa vai conversa vem, quando dei por mim uma funcionária  já estava ao meu lado vendendo seu peixe.
Começou a tocar no meu rosto, avaliar minhas manchinhas escuras, tocou nas minhas mãos e começou mais uma vez o seu velho discurso, oferecendo seus tratamentos milagrosos e rejuvenescedores. Com a minha recusa, ela lembrou de usar uma tática que não havia utilizado até então. Provavelmente deve ter achado que tocaria no meu emocional e me convenceria a aceitar o tal tratamento.
Desta vez, a funcionária me garantiu com todas as letras que depois desses tratamentos eu ficaria branquinha. Eu até tentei argumentar, mas não adiantou muito, então preferi calar a boca e esperar que ela terminasse de explicar tudo que queria.
Depois de todo o seu blábláblá minucioso eu disse educadamente que não queria  fazer tratamento nenhum, que estava satisfeitíssima com a tonalidade da minha pele e tal… Mas ela não quis aceitar meus argumentos e puxou logo a calculadora para negociar. Aqui, puxar a calculadora é normal, os chineses sempre tentam negociar o preço com os clientes.
Foi um sacrifício fazer essa mulher entender que eu não faço questão alguma de ser a Branca de neve, que sou morena e gosto de ser morena, pra espanto dela, que me olhou como se tivesse visto um ET.

_ Como assim, no Brasil as mulheres não querem ficar brancas?
_ Não, a gente até gosta de curtir uma praia de vez em quando pra pegar um bronze!
_OMG! Day, você PRECISA fazer esse tratamento IMEDIATAMENTE, você vai ficar muito mais branca. (e deu bastante ênfase no braanca).

Puxa, depois de tudo que falei ela ainda insistiu nesse assunto de virar branca. Qual parte do eu gosto de ser morena que ela não entendeu? Só faltou mesmo desenhar que não tenho a menor intenção de virar o Michael Jackson… (rsr)
Depois do sufoco em me livrar da funcionária eficiente/pegajosa, fiquei com uma vontade enorme de gargalhar, então pensei cá comigo: eu passo cada perrengue! Mas, pra ser bem sincera, é uma das vantagens de viajar, de morar no país dos outros, de conhecer outras culturas... eu acabo aprendendo, ainda que à força, a conviver e a respeitar as diferenças.

Já em casa, lembrei-me de uma moda que apareceu por aqui no verão passado. Estou até pensando seriamente em me juntar às chinesas que aderiram a ela, tudo apenas para conservar a brancura da pele. 🙂

Abaixo, uma pequena amostra:


Esclarecendo:
 Pessoal, na China as mulheres têm que ter a pele clarinha, quanto mais branca, melhor! Ser branca é sinônimo de ser chique e elegante, de que se tem um alto nível econômico. Só tem a pele queimada de sol as mulheres pobres, aquelas que trabalham no campo, na colheita do arroz.

Ai, ai, coisas da China…

sábado, 11 de maio de 2013

Um lugarzinho pra lá de especial!

Eu nunca fui muito boa em dar dicas de restaurante pra ninguém, porque tenho um gosto um bocado peculiar para comida. Como tudo muito picante, por causa desse meu gosto meio fora dos padrões, acho que não tenho cacife pra indicar bons lugares pra quem gosta de degustar boa comida. Mas de qualquer maneira, no texto de hoje me arriscarei a indicar um restaurante que conheci dia desses e achei muito especial... Especial em todos os sentidos!
Às vezes, do nada, saio à procura de algum lugar pra comer, só que encontrar durante a semana uma mesa livre em qualquer restaurante do centro de Hong Kong na hora do almoço é uma dificuldade. Qualquer birosquinha, por menor que seja, tem sempre uma fila quilométrica na porta esperando pra entrar. Quando eu já estava quase desistindo, eis que avisto um restaurante completamente vazio, o iBakery. Decidi entrar e experimentar, assim meio sem dar nada pelo local, eu tenho a péssima mania de achar que se não tem ninguém dentro não presta, mas dessa vez me equivoquei, porque comi e gostei.
Logo que entrei reparei que o lugar é bem espaçoso e com menos mesas que o habitual. Notei também que havia um chefe dando ordens para os funcionários... Ele fez uma rodinha com todos e falava, e explicava, e gesticulava.




iBakery4-001


Isso chamou bastante a minha atenção, eu achei esquisito pra caramba o cliente entrar e o cara ficar ensinando na hora o que o funcionário tem que fazer.
Quando a garçonete chegou pra anotar o pedido, percebi que ela falava com um pouco de dificuldade e se movimentava também com mais lentidão. Demorou um tempinho até que a distraída aqui percebesse que se tratava de funcionários portadores de deficiências. Apesar de saber da importância de inserir a pessoa com necessidades especiais no mercado de trabalho, confesso que fiquei tocada, pois nunca tinha estado em um restaurante assim. Eu até sei que   muitas empresas no Brasil, devido à existência da lei de cotas, costumam contratar e dar treinamento preparatório para pessoas com alguma necessidade especial, mas um restaurante cujos funcionários são, em sua maioria, deficientes, eu ainda não conhecia. Até pensei no início que o restaurante estava vazio demais, mas aí, pra me deixar ainda mais desconcertada, o restaurante começou a encher e ficou sem nenhuma mesa disponível. Foi então que comecei a observá-los e entendi que o lugar era espaçoso e com menos mesas exatamente pra que eles pudessem se movimentar melhor.

O iBakery é um empreendimento social que opera junto com o grupo Tung Wah Hospital. Foi fundado em 2010 e conta com uma cafeteria/restaurante, uma padaria e um local onde são ministrados cursos de panificação para pessoas com deficiência. O objetivo desse empreendimento é promover a inclusão social.
O que achei mais interessante nisso tudo foi terem aberto espaço para pessoas que trabalham mais devagar que as demais, em um lugar onde tudo funciona com uma rapidez incrível: os clientes chegam rápido, comem rápido e querem pagar e sair rápido. E mesmo assim funciona direitinho. 
Tá, mas e a comida? Pois é, eu disse que não sabia dar dicas de restaurante, né? E não sei mesmo, mas posso assegurar que o rango é muito bom. O iBackery na hora do almoço serve comida quente, eles oferecem um cardápio com o menú do dia: pequenas porções, porém deliciosas. Eu adorei e recomendo!!!

Funcionários/Alunos no iBakery

Quando saí do restaurante, pela quantidade de pessoas que já estava na porta esperando pra entrar, deu pra perceber que eu não fui a única a aprovar. Pelo visto chineses e estrangeiros também aprovaram, não apenas a comida mas a importância de empregar pessoas com algum tipo de limitação. Coisa linda de se ver... Quem dera muitos outros locais assim existissem.

E você, conhece algum restaurante desse tipo na cidade onde mora?

terça-feira, 7 de maio de 2013

Morar no morro até que é legal!!


Vista de Hong Kong

Logo que meu marido e eu colocamos os pés em Hong Kong começamos uma corrida desenfreada em busca de um lugar legal pra morar. Foram dias intermináveis visitando um monte de apartamentos. Chegou um momento que eu já estava tão cansada dessa tarefa, que confundia cozinha de um com banheiro de outro e sala de mais outro. 
A parte mais difícil foi decidir com qual dos apts ficaríamos - foi preciso avaliar minuciosamente as vantagens e desvantagens que cada um dos apês oferecia: distância da escola das crianças, local pra levar o cachorro pra passear, transporte público disponível por perto e mais algumas coisinhas. No final, o apê escolhido foi aquele localizado justamente no alto da montanha. Conclusão, pegamos nossa bagagem e subimos o morro!

No início, eu fiquei meio em dúvida sobre vir ou não morar aqui em cima, mas agora sei que foi a decisão mais acertada. Hoje, não consigo me imaginar morando em outro lugar. 
Aqui, no topo da montanha, o clima é muito agradável; no verão, enquanto a galera fica lá embaixo derretendo no calor, nós temos um clima mais ameno. É bem verdade que no inverno faz mais frio, que o vento às vezes é cortante e desestimula sair pra uma pequena caminhada, mas isso é apenas um detalhe sem grande importância.
O certo é que quando foi decidido que viríamos morar aqui em cima alguns colegas tentaram nos fazer mudar de ideia; disseram que seria horrível, que não aguentaríamos muito tempo, que no inverno passaríamos a maior parte do tempo entre as nuvens... É assim mesmo, eles não  nos enganaram, mas o que eles não sabiam é que eu adoro essa paisagem de neblina. Muitas vezes tem tanto nevoeiro que não enxergamos um palmo adiante do nariz, mas mesmo assim eu gooosto!! A paisagem fica com um quê de mistério e, por alguma razão que desconheço, sempre que está assim me lembro do livro "O Morro dos Ventos Uivantes"... rsr


Nevoeiro típico no Peak!

Aqui em cima me sinto segura, me sinto em casa, me sinto livre. The Peak, como é conhecido, é o ponto mais alto da ilha de Hong Kong (552 metros de altura) e também o melhor lugar para aspirar ar fresco e puro. É um lugar bom pra morar desde que apareceram os britânicos no século XIX. Foi aqui onde eles construíram suas casas de veraneio para fugir do calor  da cidade. Além disso, as vistas são espetaculares. 


Nascer do Sol


Paisagem da janela

Eu vejo todos os dias da janela de casa o nascer do sol, quer privilégio maior que esse? Pra mim, esses presentes que recebemos da natureza valem mais que qualquer coisa. Sempre que acordo e vejo o Sol nascendo, vermelho vivo, tal qual uma bola de fogo, sorrio e agradeço por esses pequenos detalhes que algumas vezes deixamos passar despercebidos, mas que na verdade são importantes e podem fazer toda a diferença. 



No Peak tem verde pra caramba, muitos bosques preservados, nem parece que fica em Hong Kong, uma cidade com arranha-céus pra todo lado e movimentada a toda hora. É como morar no campo tendo a cidade aos nossos pés.


Trenzinho que sobe para o Peak

A forma mais prática e bonita de subir até aqui onde moro é utilizando o Peak Tram, um trenzinho que lembra muito aquele que sobe para o Corcovado, no Rio. 
O Peak além de ser um local bonito vive sempre lotado de turistas munidos de câmeras fotográficas esperando o nascer e o pôr do sol ou simplesmente esperando anoitecer pra fotografar a cidade do alto. Eu, simplesmente, acho uma delícia sair de casa e ver tanta gente turistando e desfrutando das belas vistas.

Pois é, morar no morro tem suas vantagens, sem falar que subir uma ladeirinha de vez em quando é excelente pra definir as pernas, né?! 
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