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Mudança - de Mo Yan!






“Um grande vilão tem sempre algo de heróico, e um grande herói tem sempre algo de vil.”

mudançaHá tempos eu tinha vontade de ler algo de Mo Yan, o escritor chinês ganhador do Prêmio Nobel de Literatura em 2012. Como para mim ele era um mero desconhecido, acabei por escolher um livro ao acaso.
Decidi-me por Mudança, que não foi o primeiro livro que ele escreveu mas que veio bem a calhar com o que eu estava buscando: conhecer mais a fundo o escritor assim como o país no qual ele vive. 🙂
Mudança é um livro bem fininho, entretanto, suas poucas páginas se encarregam de contar um pouco sobre a trajetória de Mo Yan e de como ele enveredou pelo caminho da literatura.
O autor se dispõe a relatar de forma relaxada e bem-humorada, baseada em memórias de sua vida privada, as grandes transformações ocorridas na China ao longo das últimas três décadas.
Mo Yan vivia em um vilarejo, estudava em uma boa escola, uma das melhores da província de Shandong – e da qual foi expulso quando era apenas um estudante da quinta série. Trabalhou em uma fábrica de algodão e tempos depois entrou para o exército porque achava que apesar de difícil era muito mais fácil que ser admitido em uma universidade. Ele conta como foi colocar os pés na capital Pequim, mesmo naquela época a cidade não sendo nem um décimo do que é hoje, ainda assim já lhe parecia monstruosa e assustadora. Relata sua visita ao mausoléu do Presidente Mao e da emoção que sentiu na ocasião de seu falecimento, pois ele e grande parte dos chineses acreditavam que com sua morte seria o fim da China. Porém, alguns anos após esse acontecimento, era possível constatar que a China não apenas havia sobrevivido, mas melhorava e crescia dia após dia. Além disso, após o desaparecimento do Presidente Mao, proprietários de terra deixaram de ser estigmatizados, agricultores passaram a ter mais grãos em casa e até as universidades mudaram seu sistema educacional, passando a adotar o exame de admissão, facilitando assim a vida daqueles que desejavam estudar. Tudo o que o autor conta ilustra muito bem como as coisas mudaram na China e continuam mudando.
Eu, particularmente, acredito que este livro não mostra claramente como é de fato a literatura de Mo Yan, seria preciso ter contato com sua escrita ficcional também, mas reconheço que foi uma boa introdução, foi a porta de entrada para conhecer o caminho que ele trilhou até ser considerado e reconhecido como um escritor de sucesso. Ademais, pude perceber um pouquinho mais as peculiaridades da China – este país gigantesco, enigmático e tão cheio de nuances.
Sobre o autor:

Mo-Yan
Mo Yan nasceu na província de Shandong, China, em 1956. É autor de romances, novelas e contos. Ganhou vários prêmios literários nacionais e é o escritor chinês mais elogiado de sua geração. Mo Yan é seu pseudônimo, que significa “não fale”, um nome bastante curioso para alguém que se dedica a escrever e criar vozes para debater acerca de diversos assuntos.

Comentários

  1. Que interessante. Muito obrigada pela sugestao assim que pela maravilhosa apresentacao deste livro. Achei super interessante sua ideia de ler a respeito do autor, conhecer sua tragetoria antes de ler seus outros livros. Minha tendencia natural seria de ja ler o livro vencedor do premio Nobel :-) Concordo, soa interessante seu nome em se tratando de um escritor, mas vc sabe o Karl Jung dizia que o problema maior dos seres humanos e o falar....as palavras uma vez vindas a boca e dela saidas sao a causa dos nossos maiores problemas. Segundo ele, na nossa tentativa de por em palavras aquilo que so pode ser sentido e o nosso verdadeiro downfall. Nese contexto, entendo perfeitamente a escolha do nome do autor. Bom Domingo pra voce!!

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  2. Oi Rose, na verdade eu fui meio forçada a ler esse livro, porque foi o único de Mo Yan que apareceu em português por aqui, e eu ainda dou preferência pra ler em meu idioma...rsrs, mas no final das contas eu gostei!
    Acho que Karl Jung tem razão, muitas vezes falamos demais mesmo, seria melhor ouvir mais, pensar mais, com certeza muitos problemas seriam evitados, né?
    Obrigada pelo comentário.
    Beijos :D

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