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O holocausto tão pouco conhecido...

“Primeiro levaram os negros, mas eu não me importei com isso, eu não era negro. Em seguida levaram alguns operários, mas não me importei com isso, eu não era operário. Depois prenderam os miseráveis, mas não me importei com isso, porque eu não sou miserável. Depois agarraram uns desempregados, mas como eu tenho meu emprego, também não me importei. Agora estão me levando, mas já é tarde, como eu não me importei com ninguém, ninguém se importa comigo.” (Bertolt Brecht)

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Quem aí aprendeu na escola algo relacionado ao Massacre de Nanquim? Eu, pelo menos até vir morar na China, não tinha escutado nada sobre isso. Conheci essa parte horripilante da História por meio de livros de alguns escritores chineses que li.
Sempre tive interesse em ler livros que me levassem a aprender algo mais sobre o mundo. Confesso, no entanto, que saindo da ficção e passando para algo mais verídico alguns fatos causam-me muita impressão. Já tinha tido uma experiência bastante perturbadora anos atrás quando visitei um campo de concentração da Segunda Guerra Mundial: Buchenwald, na Alemanha. Lembro-me bem que quando saí de lá jurei para mim mesma que nunca mais voltaria a colocar os pés em um lugar assim, porque a sensação que tive foi completamente angustiante, triste e, acima de tudo, vergonhosa.
Os anos passaram e eu decidi visitar outra vez um lugar bastante parecido com Buchenwald: o Museu do Massacre de Nanquim. Apesar da atmosfera no Museu do Massacre ser menos lúgubre que no campo de concentração alemão, a sensação não deixou de ser, também, angustiante.
O Massacre de Nanquim foi um episódio negro da História da China e que, infelizmente, até hoje é pouco conhecido. No dia 13 de dezembro de 1937 tropas do Império Japonês atacaram e dominaram a cidade de Nanquim, naquela época a capital da China. Os japoneses permaneceram na cidade durante seis semanas e, durante todo esse tempo, praticaram as piores atrocidades.
Cometeram assassinatos em massa com requinte de crueldade, estupros coletivos de mulheres jovens, idosas e até crianças, além de saques, roubos e todo tipo de desumanidade. A cidade ficou completamente destruída, as ruas cheias de corpos, um inferno! Foram mortas milhares de pessoas inocentes, completamente desarmadas, rendidas, sem a menor chance de defesa. Os japoneses pintaram e bordaram em Nanquim durante essas seis semanas.
O número de mortos não se pode afirmar com precisão, mas o Museu do Massacre nos informa que essa quantidade é de aproximadamente 300000 vítimas.

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Eu já planejava uma visita a esse museu há bastante tempo, queria ver as fotografias e os vídeos disponíveis (sim, há vídeos, apesar disso alguns japoneses ainda insistem em dizer que o massacre não ocorreu de fato), assim como os relatos de sobreviventes chineses e estrangeiros que viveram em Nanquim durante a guerra.
Claro que isso tudo pode ser feito por meio do computador, hoje a internet está cheia de fotos e documentários que mostram bem como foi o massacre, mas eu queria ir lá, sentir pelo menos um pouquinho do desconforto que coisas desse tipo podem causar, porque acredito que esse desconforto é necessário. É preciso de vez em quando um choque de realidade para aprendermos a valorizar o sofrimento alheio.
Dentro daquele lugar me senti desassossegada e envergonhada. Senti uma melancolia quase inexplicável… Dentro daquele lugar me senti pequenina e completamente inútil.
Espero, sinceramente, que os erros do passado não sejam esquecidos, que fiquem na nossa memória para sempre… Que olhando para esses erros tenhamos ainda mais certeza dos atos que nao devem ser repetidos jamais. Que essa brutalidade do passado sirva para nos ensinar a respeitar a dor alheia e, sobretudo, para nos ensinar a construir um futuro melhor, livre de qualquer tipo de sofrimento e desumanidade. 😥
Quem tiver interesse em saber um pouco mais sobre o Massacre de Nanquim, indico dois filmes:
Flores do Oriente
City of Life and Death

Além desses dois filmes a internet oferece ainda vários documentários sobre Nanquim, inclusive sobre uma personagem muito importante, John Rabe, um empresário alemão que morou na cidade à época do holocausto e que muito fez pelo povo chinês. Interessante a história dele, vale a pena conhecer.

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