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Terra Americana, Jeanine Cummins

“Às vezes a experiência de leitura pode ser corrompida por um número excessivo de opiniões.” Em  Terra Americana  a escritora  Jeanine Cummins  relata a forma pouco convencional e bastante irresponsável como os migrantes mexicanos, hondurenhos e guatemaltecos viajam do Sul do México até à fronteira Norte dos Estados Unidos. Contrariando a norma e o bom senso, homens, mulheres e até mesmo crianças ficam por mais de três mil quilômetros em cima de trens de carga, conhecidos como  La Bestia , sem nenhum tipo de segurança ou proteção. Es ses viajantes enfrentam além das intempéries, quedas seguidas de amputações, subornos, sequestros, estupros, às vezes perdem até mesmo a vida na tentativa de alcançar o sonho americano. Cummins, que é norte-americana, não teve seu livro bem recebido pela comunidade latina nos EUA… A escritora, por não ser latina, não foi considerada idônea o suficiente para discorrer acerca desse tema e foi acusada de se apropriar de um lugar d...
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Li e gostei #1: Olhos d'água, Conceição Evaristo

“Minha mãe sempre costurou a vida com fios de ferro.” Conceição Evaristo , escritora mineira e negra, é mestra em Literatura Brasileira e doutora em Literatura Comparada. Em Olhos d’água , uma coletânea de contos, publicada em 2014 pela Editora Pallas, Evaristo retrata a população afro-brasileira de uma forma crua e direta, sem muita firula. A autora coloca em evidência as mazelas sofridas por mães, filhas, filhos, avós, maridos e amantes negros de um modo totalmente visceral. A escrita de Conceição Evaristo assemelha-se muito à de Carolina Maria de Jesus , outra escritora mineira e negra -, e seu tão conhecido e estudado Quarto de Despejo. Olhos d’água trata de questões sociais/existenciais e denuncia a pobreza, a violência, a exclusão social, dando voz aos favelados, aos menos favorecidos - aqueles que vivem à margem da sociedade. A literatura de Conceição Evaristo é um soco no estômago. Não consegui sair dela ilesa. Tocou e doeu. Conceição Evaristo

Livros que li...

É sempre assim… A mesma casa, a mesma escada, o mesmo homem. Mas só porque esse homem ficou mais velho, conheceu outras terras e outras gentes, leu mais livros, a casa e a escada mudaram. E as pessoas da casa também mudaram. — Erico Veríssimo Em relação a leituras, 2018 foi um bocadinho melhor que 2017, mesmo assim não consegui voltar a minha rotina de leitura dos anos anteriores. Aliás, nem sei se um dia voltarei. Apesar de não ter lido uma quantidade exorbitante de livros, posso dizer que fiz leituras interessantíssimas e tocantes. Li com atenção e desfrutando cada página o máximo que pude… Fui deixando pelo meio do caminho vários livros inacabados e, pra ser bem sincera, já não me importo mais com isso, se não gostar abandono mesmo e pronto, porque a vida é curta demais para perdermos tempo com livro chato e que não nos toca de alguma forma. Os livros que li em 2018: 1- Travessuras da Menina Má ,  Mario Vargas Llosa : conta uma história de amor, mas a meu ver, uma histó...

Acorda, filha, por favor acorda!

“Neste 8 de janeiro de 1992 escrevo para você, Paula, para trazê-la de volta à vida.” Paula , da escritora chilena  Isabel Allende , é um livro que toca o leitor de uma maneira tão profunda que é quase impossível escrever qualquer coisa acerca dele sem deixar transparecer um quê de emoção… Talvez por eu já conhecer o teor da história tenha ficado por muito tempo com o livro à espera sem coragem de pegá-lo para ler. Quando finalmente decidi que era a hora de mergulhar nessa leitura, fui surpreendida por uma escrita que, embora muito triste e dolorosa, transmite um bocado de esperança. Isabel Allende começa sua narrativa assim:  “Ouve, Paula, vou contar-te uma história para que, quando acordares, não te sintas perdida…”  Paula, uma jovem de apenas 28 anos, padece de  porfiria , uma rara enfermidade. Após uma crise, entra em coma e assim permanece por quase doze meses. Durante o período em que Paula permaneceu em coma, Allende começa a escrever uma carta q...

Terra Sonâmbula, Mia Couto...

“Se dizia daquela terra  que era sonâmbula. Porque enquanto os homens dormiam, a terra se movia espaços e tempos afora. Quando despertavam, os habitantes olhavam o novo rosto da paisagem e sabiam que, naquela noite, eles tinham sido visitados pela fantasia do sonho.”       Houve uma época que quando eu pensava em África as imagens que me vinham à cabeça eram de homens fortes, destemidos e belas mulheres, naturalmente sensuais em suas capulanas coloridas, rodeadas de miúdos felizes e barulhentos, no seu ir e vir pelas bonitas paisagens da savana, banhadas pelos raios de um dourado sol de fim de tarde. Não sei explicar muito bem a razão pela qual eu tinha essa concepção tão romântica e idealizada da África, mas o certo é que todo esse colorido que permeava a minha imaginação acerca desse continente ficou meio desbotado depois da leitura de  Terra Sonâmbula , de  Mia Couto . Os tons que permeiam a obra desse escritor moçambicano nada têm de suaves ou color...

Os Maias, Eça de Queirós

Um clássico é um livro que nunca acaba de dizer o que tem pra dizer. — Italo Calvino Há livros que não consigo ler de uma sentada só, não porque são ruins ou enfadonhos, mas porque me fascinam e cativam de tal maneira que chega a fazer-me pena conhecer o fim. Os Maias é um livro assim, por essa razão não me é possível escrever sobre ele sem me emocionar. Por causa dos Maias, habitei vários meses o Ramalhete, lá na Rua de S. Francisco de Paula, no Bairro das Janelas Verdes, naquela Lisboa do final do século XIX. Desfrutei, incansavelmente, da privilegiada vista do Tejo e do Porto de Santos. Vi, vezes sem conta, Dom Afonso da Maia sentar-se frente à lareira para tomar seu cálice de vinho do Porto ao mesmo tempo que aconselha o apaixonado Pedro da Maia, seu filho, a afastar-se da belíssima Maria Monforte. Usufruí dos bons ares de Santa Olávia, ao pé do rio Douro, e observei, quase sempre com um sorriso no rosto, a infância feliz do pequeno Carlos Eduardo da Maia. Foi então...