quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

Acorda, filha, por favor acorda!

“Neste 8 de janeiro de 1992 escrevo para você, Paula, para trazê-la de volta à vida.”

Paula
Paula, da escritora chilena Isabel Allende, é um livro que toca o leitor de uma maneira tão profunda que é quase impossível escrever qualquer coisa acerca dele sem deixar transparecer um quê de emoção… Talvez por eu já conhecer o teor da história tenha ficado por muito tempo com o livro à espera sem coragem de pegá-lo para ler. Quando finalmente decidi que era a hora de mergulhar nessa leitura, fui surpreendida por uma escrita que, embora muito triste e dolorosa, transmite um bocado de esperança.
Isabel Allende começa sua narrativa assim: “Ouve, Paula, vou contar-te uma história para que, quando acordares, não te sintas perdida…” Paula, uma jovem de apenas 28 anos, padece de porfiria, uma rara enfermidade. Após uma crise, entra em coma e assim permanece por quase doze meses.
Durante o período em que Paula permaneceu em coma, Allende começa a escrever uma carta que, mais tarde, se transformaria neste livro, uma espécie de autobiografia que ela dedica à filha. O processo de escrita do livro ajuda Isabel a vencer seus medos e dúvidas acerca do futuro da filha e também a exorcizar a dor de uma possível perda. Em Paula, Allende intercala a história da doença da filha e a história da sua própria família, que começa no início do século passado quando um imigrante basco, ascendente seu, desembarca na costa do Chile. Conhecemos episódios muito pessoais da vida da escritora, desde o seu nascimento, no Peru, em 1945, até o momento da partida da filha, em dezembro de 1992. Sob o seu olhar entramos em contato com o Chile Pré e Pós-Ditadura do General Pinochet, passando pela Morte do Presidente Salvador Allende, tio da escritora, e o exílio da própria Isabel e sua família na Venezuela… Isabel se abre sem reservas e nos conta, também, como se deu a criação do seu primeiro romance, A Casa dos Espíritos, um dos seus livros mais conhecidos e emblemáticos.
A narrativa de Isabel Allende é de uma sensibilidade ímpar… Em nenhum momento sua escrita é desprovida de dor, no entanto, à medida que avançamos, percebemos que a autora consegue passar de desesperada a resignada, conseguindo em alguns momentos levar o leitor da tristeza ao riso. 
Algumas lágrimas rolaram por aqui, mas valeu muito a pena conhecer a história de Paula e, principalmente, a história de Isabel, uma mulher forte que, apesar de passar por uma das piores situações, a perda de um filho, não perdeu em nenhum momento a esperança. O livro é melancólico, mas é, ao mesmo tempo, um culto ao amor e, principalmente, à vida.


“Se tu resistes, Paula, eu também.”




isabel
Isabel Allende

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