Um clássico é um livro que nunca acaba de dizer o que tem pra dizer.
— Italo Calvino
Há livros que não consigo ler de uma sentada só, não porque são ruins ou enfadonhos, mas porque me fascinam e cativam de tal maneira que chega a fazer-me pena conhecer o fim. Os Maias é um livro assim, por essa razão não me é possível escrever sobre ele sem me emocionar.
Por causa dos Maias, habitei vários meses o Ramalhete, lá na Rua de S. Francisco de Paula, no Bairro das Janelas Verdes, naquela Lisboa do final do século XIX.
Desfrutei, incansavelmente, da privilegiada vista do Tejo e do Porto de Santos. Vi, vezes sem conta, Dom Afonso da Maia sentar-se frente à lareira para tomar seu cálice de vinho do Porto ao mesmo tempo que aconselha o apaixonado Pedro da Maia, seu filho, a afastar-se da belíssima Maria Monforte. Usufruí dos bons ares de Santa Olávia, ao pé do rio Douro, e observei, quase sempre com um sorriso no rosto, a infância feliz do pequeno Carlos Eduardo da Maia. Foi então que compreendi o orgulho que Afonso da Maia sentia ao ver seu neto crescer saudável e forte como um touro. Anos depois, não tive vergonha de seguir Carlos Eduardo durante suas longas caminhadas pelas ruas do Chiado, à noite, no auge de sua juventude. Quando apareceu Maria Eduarda, senti também um grande encantamento por sua beleza e elegância. Fui testemunha daquele amor impossível. Com eles ri e chorei… Cheguei, inclusive, a insultar a crueldade do destino.
E sobre João da Ega, o que posso dizer? Que é um rapaz interessante, espirituoso e brincalhão! Dei altas risadas com essa personagem que nada mais é que um alter ego do próprio escritor.
Hoje, um dia frio de novembro de 2018, saio do Ramalhete com o coração tranquilo e transbordando de emoção… Emoção por ter finalmente conhecido os Maias, por ter sido espectadora de suas dores e tragédias, mas, sobretudo, de suas alegrias e conquistas.
Meu exemplar já tem um lugar especial reservado na estante. Então, quando a saudade bater com força, revisitarei o Ramalhete. Uma e outra vez… E quantas vezes mais sejam necessárias.
O livro conta a história da família Maia ao longo de três gerações, sendo que a mais importante e mais explorada no romance é a última, que trata do amor incestuoso de Carlos da Maia e Maria Eduarda. Eça de Queirós utiliza essa obra para criticar com bastante ironia a sociedade lisboeta da última metade do século XIX. Esse livro introduziu o realismo em Portugal, rompendo de vez com o romantismo. Foi publicado em 1888, quando Eça de Queirós tinha 43 anos.
Eça de Queirós
José Maria Eça de Queirós nasceu a 25 de novembro de 1845, na Póvoa do Varzim, e morreu a 16 de agosto de 1900, em Neuilly, nos arredores de Paris.
Os Maias foi adaptado para a televisão brasileira em 2001:
Em Portugal, foi adaptado para o cinema em 2014, por João Botelho:
A música linda que foi tema da adaptação brasileira:
"Cada livro, cada volume que você vê, tem alma. A alma de quem o escreveu, e a alma dos que o leram, que viveram e sonharam com ele. Cada vez que um livro troca de mãos, cada vez que alguém passa os olhos pelas suas páginas, seu espírito cresce e a pessoa se fortalece." Carlos Ruiz Zafón Começou o 10º BookCrossing Blogueiro, o projeto pra lá de bacana que a Luma Rosa, do blogue Luz de Luma, Yes Party, organiza duas vezes por ano. Quem quiser participar está convidado, basta apenas escolher aquele livro que está abandonado na estante, colocar um recadinho dentro explicando que ele não está perdido, que é um livro livre (que deve ser lido e outra vez libertado) e deixá-lo em algum lugar público para que alguém o encontre. Você pode também entregá-lo diretamente a alguém ou enviá-lo pelo correio. O importante é entrar na brincadeira com gosto, participar e ajudar a compartilhar livros por aí. Escolhi três livros para libertar. Quem estiver inte...
Mais uma vez começará o divertido BookCrossing Blogueiro , organizado pelo blogue Luz de Luma, Yes Party. O objetivo do BookCrossing Blogueiro é "libertar" livros de nossas estantes para que outras pessoas os possam ler também, estimulando assim o hábito da leitura. Quem quiser entrar na brincadeira sinta-se convidado. É muito simples participar, basta apenas selecionar o livro que deseja passar adiante, colocar um bilhete dentro (modelo aqui) explicando que ele não está perdido, que deve ser lido e libertado outra vez... Fácil, né?! Um dos livros que escolhi para libertar é O Castelo de Vidro , da jornalista norte-americana Jeannette Wallls . O Castelo de Vidro foi-me enviado da Alemanha por uma querida amiga virtual ( Obrigada, Nina! ). O livro está agora em Hong Kong e ansioso para seguir circulando livremente por aí... Já o li e gostaria de oferecê-lo a outro leitor, porém de uma forma um pouco diferente: via correio. Quem tiver intere...
“Às vezes a experiência de leitura pode ser corrompida por um número excessivo de opiniões.” Em Terra Americana a escritora Jeanine Cummins relata a forma pouco convencional e bastante irresponsável como os migrantes mexicanos, hondurenhos e guatemaltecos viajam do Sul do México até à fronteira Norte dos Estados Unidos. Contrariando a norma e o bom senso, homens, mulheres e até mesmo crianças ficam por mais de três mil quilômetros em cima de trens de carga, conhecidos como La Bestia , sem nenhum tipo de segurança ou proteção. Es ses viajantes enfrentam além das intempéries, quedas seguidas de amputações, subornos, sequestros, estupros, às vezes perdem até mesmo a vida na tentativa de alcançar o sonho americano. Cummins, que é norte-americana, não teve seu livro bem recebido pela comunidade latina nos EUA… A escritora, por não ser latina, não foi considerada idônea o suficiente para discorrer acerca desse tema e foi acusada de se apropriar de um lugar d...
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