“O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais; há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que nem eu mesma compreendo, pois estou longe de ser uma pessoa, sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudade… sei lá de quê!”
Passou já bastante tempo desde que li pela primeira vez um poema de Florbela Espanca. Acho que foi em 2002, quando folheando uma revista literária, encontrei um texto seu. Fiquei tão fascinada com suas palavras que na primeira oportunidade que tive comprei um livro. Desde então, nunca mais consegui me separar desse livro… tenho-o sempre à mão, leio-o, releio-o, rabisco-o. Os poemas de Florbela são sentimentais e tocantes, quando os leio é impossível não me sentir assim: completamente arrebatada. Sua poesia trata de amor e paixão de uma forma muito linda e sensual, aliás, o erotismo é uma característica muito forte na obra da escritora. Florbela consegue ser sensual sem perder a feminilidade e a elegância, pois a sensualidade presente em seus poemas é sutil, contida, delicada, não fere a sensibilidade do leitor. Ela soube viver apaixonadamente e com grande intensidade a sua vida amorosa, percebemos isso claramente quando entramos em contato com sua obra.
“(…) se tu viesses quando, linda e louca, Traça as linhas dulcíssimas dum beijo E é de seda vermelha e canta e ri
E é como um cravo ao sol a minha boca… Quando os olhos se me cerram de desejo… E os meus braços se estendem para ti…”
A tristeza e a morte são também outros temas recorrentes em sua poesia. Alguns poemas possuem um tom lúgubre e se encarregam de revelar a outra faceta da escritora, a de uma mulher atormentada e inconformada. Nesses poemas ela deixa transparecer um certo desespero, uma tristeza profunda, tristeza essa que parece ter acompanhado a escritora durante toda a vida.
“(…) Poentes de agonia trago-os eu Dentro de mim e tudo quanto é meu É um triste poente de amargura!
E a vastidão do mar, toda essa água Trago-as dentro de mim num mar de mágoa! E a noite sou eu própria! A noite escura!
Apesar desse tom melancólico tão comum em sua escrita, é impossível desgostar da poesia de Florbela, é impossível não se sentir tocado por ela ao entrar em contato com suas palavras. Florbela é a poetisa do amor, da quimera e da saudade, é uma das figuras femininas mais representativas da poesia portuguesa do século XX.
E para revelar ainda mais esta poetisa, de tal forma que ela não se confunda com outra, nada melhor que um soneto seu, um dos mais belos:
Eu quero amar, amar perdidamente Amar só por amar: aqui… além… Mais Este e Aquele, o Outro e toda gente… Amar! Amar! E não amar ninguém
Recordar? Esquecer? Indiferente! Prender ou desprender? É mal? É bem? Quem disser que se pode amar alguém Durante toda a vida é porque mente!
Há uma primavera em cada vida: É preciso cantá-la assim florida, Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!
E se um dia hei de ser pó, cinza e nada Que seja a minha noite uma alvorada, Que me saiba perder… pra me encontrar!…
Meu primeiro livro. É uma seleção de poemas esparsos
Seus poemas são tão admirados que já foram musicados algumas vezes. Deixo aqui dois vídeos: um de Fagner e Zeca Baleiro, cantores brasileiros. Outro de Mariza, fadista portuguesa.
Há alguns anos foi lançado o filme Perdidamente Florbela de Vicente Alves, sobre a vida da poetisa. Deixo aqui o trailer pra quem tiver interesse em conhecer um bocadinho mais a escritora:
Florbela Espanca faleceu no dia 8 de dezembro de 1930, dia em que completaria 36 anos.
"Cada livro, cada volume que você vê, tem alma. A alma de quem o escreveu, e a alma dos que o leram, que viveram e sonharam com ele. Cada vez que um livro troca de mãos, cada vez que alguém passa os olhos pelas suas páginas, seu espírito cresce e a pessoa se fortalece." Carlos Ruiz Zafón Começou o 10º BookCrossing Blogueiro, o projeto pra lá de bacana que a Luma Rosa, do blogue Luz de Luma, Yes Party, organiza duas vezes por ano. Quem quiser participar está convidado, basta apenas escolher aquele livro que está abandonado na estante, colocar um recadinho dentro explicando que ele não está perdido, que é um livro livre (que deve ser lido e outra vez libertado) e deixá-lo em algum lugar público para que alguém o encontre. Você pode também entregá-lo diretamente a alguém ou enviá-lo pelo correio. O importante é entrar na brincadeira com gosto, participar e ajudar a compartilhar livros por aí. Escolhi três livros para libertar. Quem estiver inte...
Mais uma vez começará o divertido BookCrossing Blogueiro , organizado pelo blogue Luz de Luma, Yes Party. O objetivo do BookCrossing Blogueiro é "libertar" livros de nossas estantes para que outras pessoas os possam ler também, estimulando assim o hábito da leitura. Quem quiser entrar na brincadeira sinta-se convidado. É muito simples participar, basta apenas selecionar o livro que deseja passar adiante, colocar um bilhete dentro (modelo aqui) explicando que ele não está perdido, que deve ser lido e libertado outra vez... Fácil, né?! Um dos livros que escolhi para libertar é O Castelo de Vidro , da jornalista norte-americana Jeannette Wallls . O Castelo de Vidro foi-me enviado da Alemanha por uma querida amiga virtual ( Obrigada, Nina! ). O livro está agora em Hong Kong e ansioso para seguir circulando livremente por aí... Já o li e gostaria de oferecê-lo a outro leitor, porém de uma forma um pouco diferente: via correio. Quem tiver intere...
“Às vezes a experiência de leitura pode ser corrompida por um número excessivo de opiniões.” Em Terra Americana a escritora Jeanine Cummins relata a forma pouco convencional e bastante irresponsável como os migrantes mexicanos, hondurenhos e guatemaltecos viajam do Sul do México até à fronteira Norte dos Estados Unidos. Contrariando a norma e o bom senso, homens, mulheres e até mesmo crianças ficam por mais de três mil quilômetros em cima de trens de carga, conhecidos como La Bestia , sem nenhum tipo de segurança ou proteção. Es ses viajantes enfrentam além das intempéries, quedas seguidas de amputações, subornos, sequestros, estupros, às vezes perdem até mesmo a vida na tentativa de alcançar o sonho americano. Cummins, que é norte-americana, não teve seu livro bem recebido pela comunidade latina nos EUA… A escritora, por não ser latina, não foi considerada idônea o suficiente para discorrer acerca desse tema e foi acusada de se apropriar de um lugar d...
Oiiii... Não conhecia ela... Lindas as palavras!!! Beijãooo e boa semana
ResponderExcluirEla é ótima, Aliny. Tenho certeza que vc vai gostar.
ResponderExcluirBeijinhos
:)