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Mostrando postagens de 2014

A máquina de fazer espanhóis

“a vida tem dessas coisas, quando não esperamos mete-nos numa grande história. bem, ou num grande poema, que também acaba por contar uma história”. A máquina de fazer espanhóis, de Valter Hugo Mãe, conta a história de António Silva, um português de 84 anos que perde a esposa após 48 anos de vida em comum. Logo após a morte da companheira sua vida muda drasticamente, seus filhos nao têm mais tempo para ele e, de certa forma, o obrigam a viver em um asilo. A história de António Silva tem um quê de melancolia, nos deparamos com um homem letárgico, entristecido pela morte recente da esposa, que sente-se abandonado pelos filhos e que tem como única saída adaptar-se a seu novo e diferente modo de vida. Apesar de viver acompanhado por outras pessoas, na mesma situação que a sua, nao deixa de sentir-se solitário, passa os dias perdido em suas lembranças do passado e suas dúvidas acerca do futuro.  No início da narrativa António Silva é um homem avesso a conversas, ensi...

Manoel por Manoel

“Ao nascer eu não estava acordado, de forma que não vi a hora. Isso faz tempo. Foi na beira de um rio. Depois eu já morri 14 vezes. Só falta a última.” Manoel de Barros  "Eu tenho um ermo enorme dentro do olho. Por motivo do ermo não fui um menino peralta. Agora tenho saudade do que não fui. Acho que o que faço agora é o que não pude fazer na infância. Faço outro tipo de peraltagem. Quando eu era criança eu deveria pular muro do vizinho pra catar goiabas. Mas não havia vizinho. Em vez de peraltagem eu fazia solidão. Brincava de fingir que pedra era lagarto. Que lata era  navio. Que sabugo era um serzinho mal resolvido e igual a um filhote de gafanhoto. Cresci brincando no chão, entre formigas. De uma infância livre e sem comparamentos. Eu tinha mais comunhão com as coisas do que comparação. Porque se a gente fala a partir de ser criança, a gente faz comunhão: de um orvalho e sua aranha, de uma tarde e suas garças, de um passáro e sua árvore. Então eu trago de ...

Vamos compartilhar livros, pessoal?

"(...) era uma pena a falta de leitura não se converter numa doença, algo como um mal que pusesse os preguiçosos a morrer. Imaginava que um não leitor ia ao médico e o médico o observava e dizia: você tem o colesterol a matá-lo, se continuar assim não se salva. E o médico perguntava: tem abusado dos fritos, dos ovos, você tem lido o suficiente? O paciente respondia: não, senhor doutor, há quase um ano que não leio um livro, não gosto muito e dá-me preguiça. Então, o médico acrescentava: ah, fique pois sabendo que você ou lê urgentemente um bom romance, ou então vemos-nos no seu funeral dentro de poucas semanas. O caixão fechava-se como um livro."   Eu gosto muito do trecho acima, retirado do livro ' O filho de mil homens' , do escritor português Valter Hugo Mãe. Gosto porque acho engraçado, mas sobretudo porque remete à importância da leitura... E toda vez que eu penso na importância de ler e compartilhar livros, lembro do  BookCrossing Blogueiro ,  um proje...

Do fundo do baú: Colonia del Sacramento!

Remexendo e organizando minhas fotos antigas, encontrei algumas que foram feitas em Colonia del Sacramento , no Uruguai . Já faz alguns anos que estive por lá, mas parece que foi ontem, porque as lembranças ainda estão fresquinhas na cachola. Não sei se já comentei aqui no blogue, mas antes de vir morar em Hong Kong eu morei por quatro anos em Buenos Aires, na Argentina. Apesar de ter mencionado Baires, não é sobre a capital portenha que eu quero falar, mas sobre Colonia del Sacramento , uma cidadezinha extremamente charmosa que fica no Uruguai, às margens do  Rio da Prata , a apenas um pulo de Buenos Aires. O farol Praia afastada da cidade Geralmente, as pessoas que moram na capital portenha e decidem visitar Colonia del Sacramento  vão de manhã e voltam à noite, devido a proximidade é muito fácil e cômodo fazer a viagem; uma horinha só de balsa e chega-se do lado de lá. Porém, eu decidi ir com calma e ficar  três dias inteirinhos. Teria fic...

Tem olhos, mas não vê!

Tem olhos, mas não vê . Essa frase combina direitinho comigo em algumas situações. Hoje, por exemplo, me dei conta de que há mais ou menos vinte anos venho ao mesmo lugar e poucas vezes reparei na beleza que ele possui. Vocês podem até pensar: Caramba, vinte anos são anos que não acabam mais... Pois é, não posso deixar de assumir que sou cabeça dura . Eu sempre fui uma pessoa fascinada por grandes cidades, acho que isso tem muito a ver com o fato de eu ter nascido em um lugar pequenino no interior do Maranhão. Naquela época, o meu maior sonho era morar em uma cidade enorme, do tamanho do mundo. Isso ocorreu pouco depois, porque aos oito anos eu me mudei desse povoado para uma cidade maior. O interior continuou me agradando de uma certa forma, mas só durante as férias! Queria morrer só de pensar na possibilidade de voltar a morar um dia em um lugar tão pequeno. Vista da janela de meu apê! O castelo da cidade construído em 1280 Desde que me mudei do interior desfrutei c...

Então, a culpa é da vítima?

Eu não sei se estou ficando retrógrada, mas a verdade é que ando com muitas dificuldades em compreender  o ser humano, principalmente quando vejo toda essa violência que tem assolado o mundo ultimamente... Por conta do tema Violência, comecei um bate-papo saudável com uma conhecida, mas infelizmente acabou mesmo se transformando numa discussão bastante acalorada.  Começamos a falar sobre as informações que são vomitadas diariamente pelos meios de comunicação e rapidamente invadem as redes sociais. Eu disse que a mídia tem o incrível poder de manipular pessoas, e com a proliferação das redes sociais, as notícias - verdadeiras ou não - tomam proporções assustadoras. As pessoas hoje em dia não se dão mais ao trabalho de verificar se uma informação é proveniente de fonte idônea e se a pessoa que a postou é confiável. Isso, infelizmente, tem causado mal-entendidos gravíssimos; tem levado pessoas (pouco esclarecidas) a cometerem crimes hediondos, como esse que aconteceu sábado ...

O negócio é facilitar...

Ontem, li um artigo da Folha de S. Paulo  sobre um projeto da escritora Patrícia Secco, que tem como objetivo reescrever alguns clássicos da literatura. Algo nada inovador se levarmos em conta que existem por aí milhares de adaptações e resumos. Porém, foi com um quê de tristeza que cheguei à conclusão de que o grande problema da falta de leitura no Brasil, problema esse que aprisiona nossos jovens há anos, continua a ser tratado com o famoso jeitinho. A escritora alega que algumas obras da literatura brasileira, como O Alienista, de Machado de Assis, por possuírem muitas palavras desconhecidas precisam ser simplificadas. A proposta dela é trocar essas palavras "difíceis" por outras mais "fáceis". Ela diz também que a modificação que fará no texto de Machado não mudará em nada o estilo do escritor, que a ideia é apenas tornar a leitura mais  acessível aos jovens leitores. Para mim o projeto da escritora Patrícia Secco equivale a empurrar a sujeira para debaixo...

O Livro dos Abraços - Eduardo Galeano

“Quando é verdadeira, quando nasce da necessidade de dizer, a voz humana não encontra quem a detenha. Se lhe negam a boca, ela fala pelas mãos, ou pelos olhos, ou pelos poros, ou por onde for. Porque todos, todos temos algo a dizer aos outros, alguma coisa, alguma palavra que merece ser celebrada ou perdoada.” O Livro dos abraços enganou-me com seu belo título que, de uma doçura sem igual, levou-me a pensar que se tratasse de uma novela romântica, meio água com açúcar. Engano mesmo, minha gente, pois o que Galeano oferece ao leitor é muito mais que isso, ele nos brinda com pequenos relatos que se encarregam de contar grandes histórias: histórias de dores, histórias de lutas, histórias de amores e de sobrevivência. Embora a maioria desses relatos esteja relacionado à política na época da ditadura no Uruguai, eles discorrem também sobre o amor, sobre a velhice, sobre o medo, sobre religião e sobre amenidades da vida. O autor nos presenteia ainda com casos de sua própria vida na ép...

BookCrossing Blogueiro, 8-ª edição!

Mais uma vez começará o divertido  BookCrossing Blogueiro , organizado pelo blogue  Luz de Luma, Yes Party.   O objetivo do BookCrossing Blogueiro é "libertar" livros de nossas estantes para que outras pessoas os possam ler também, estimulando assim o hábito da leitura. Quem quiser entrar na brincadeira sinta-se convidado. É muito simples participar, basta apenas selecionar o livro que deseja passar adiante, colocar um bilhete dentro (modelo  aqui)  explicando que ele não está perdido, que deve ser lido e libertado outra vez... Fácil, né?! Um dos livros que escolhi para libertar é  O Castelo de Vidro , da jornalista norte-americana Jeannette Wallls . O Castelo de Vidro foi-me enviado da Alemanha por uma querida amiga virtual ( Obrigada, Nina! ). O livro está agora em Hong Kong e ansioso para seguir circulando livremente por aí... Já o li e gostaria de oferecê-lo a outro leitor, porém de uma forma um pouco diferente: via correio. Quem tiver intere...